Unidade de Saúde Mista de Araçoiaba encaminha pacientes graves para outros hospitais em cidades vizinhas (Foto: Bruna Costa / Esp. DP FOTO)
O município mais pobre da Região Metropolitana do Recife (RMR), Araçoiaba, enfrenta o surto mundial de coronavírus como pode. Em uma região onde boa parte da população trabalha sazonalmente no corte da cana-de-açúcar, o vírus chegou em duas pessoas. Outros quatro casos estavam em investigação, mas foram descartados pela Secretaria Estadual de Saúde. Com rotina de cidade pequena, Araçoiaba estava com o comércio fechado na tarde desta quinta-feira (16), e tinha pouco movimento na rua.
Quando a reportagem chegou, um carro de som passava pela Avenida João Pessoa de Moraes Guerra, a principal do município, com um informe da gestão municipal pedindo para as pessoas ficarem em casa. O mototaxista João Patrício Rodrigues, 65 anos, está no grupo de maior risco da Covid-19. Ele fica em um ponto de mototáxi na via, a poucos metros da sede da prefeitura. “Eu trabalho aqui quando não estou no corte da cana, na Usina São José, que dura 6 meses no ano. Normalmente eu rodo por muitos lugares: Carpina, Aliança, Condado, até na Paraíba eu já fiz viagem”, contou.
João Patrício não usava máscara quando foi abordado pela reportagem. “Eu tento andar com cuidado. Moro com minha esposa, uma filha e dois netos, todo mundo tem que se cuidar”, falou. A companheira de João tem 51 anos. A filha, 24. O netos são uma menina de 8 e um menino de 7 anos. “Se o governo tivesse pago o auxílio, com certeza eu não estaria na rua. Mas sem dinheiro, tenho que trabalhar, trazer o pão para dentro de casa. Eu sei que corro muito risco, mas tudo o que eu sei na vida, aprendi sozinho. Tenho que me virar”, afirmou.
Marcilio Manoel, 57 anos, também roda como mototáxi, e usava uma máscara de tecido. “Essa foi um menino da prefeitura que saiu dando”, contou. Assim como José Patrício, Marcílio roda de mototáxi quando não há trabalho no corte da cana na Usina São José. “Eu tenho medo dessa doença porque eu não tenho problema de saúde, mas sou fumante. Sei que quem fuma tem maior risco”, disse.
“Eu moro nessa principal, descendo a rua até a entrada da cidade, onde tem um canavial. Moro com meu filho de 22 anos e minha nora, que tem 18. Eu sei que essa doença é muito triste, mas quem sabe é Jesus o que pode acontecer. Lavo minha mão com álcool 70, assim que me cuido”, continuou Marcilio.
O ponto de mototáxi funcionava, mas, segundo os profissionais, a demanda de passageiros caiu muito após o fechamento do comércio em Araçoiaba e nas cidades vizinhas. “Tá muito devagar a demanda, desde a semana passada que eu estou praticamente parado”, disse o mototaxista Jailson Silva, 34 anos. Assim como José Patrício, ele afirmou que está esperando o auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal. “Mas eu entro no site e só diz que está em análise”, lamenta.
Com uma banca de frutas na Avenida João Pessoa de Moraes Guerra, Edmilson Marques da Silva, 55 anos, disse que não solicitou o auxílio emergencial. “Eu recebo minha aposentadoria, aí não preciso. Mas venho aqui vender todo dia porque preciso melhorar minha renda”, afirmou, em meio a saquinhos cheios de acerola, cachos de pitomba e um fogareiro, onde assava milho para vender na calçada.
Na Rua Antônio Carneiro, perto da feira livre, uma grande quantidade de pessoas aguardava na fila, do lado de fora do estabelecimento. Muitas delas em busca do auxílio do governo, que seria pago a quem tem cadastro no Bolsa Família nesta quinta. É o caso de Maria da Luz, 57 anos. “Eu nunca saio da minha casa, isso de ficar isolada já é a minha vida, mesmo”, brincou.
“Antigamente eu trabalhava no roçado, plantando milho, macaxeira. Depois que eu casei, mal vou para a rua. Só quando preciso ir num mercado, pagar uma conta, pegar um dinheiro, que nem agora”, falou Maria da Luz. Ela disse que tem tomado cuidados de higiene por conta da pandemia de coronavírus.
“Eu lavo minha mão com álcool ou com sabão, sempre. Mas eu vejo que o povo esquece do perigo, relaxa, sai muito. Vai na feira. Aqui já tem dois casos, fui levar minha irmã no hospital e o rapaz da ambulância me falou. Chegou aqui, tem que se cuidar”, disse Maria. O hospital ao qual ela se refere é a Unidade Mista de Saúde de Araçoiaba, que fica ao lado da prefeitura.
Dona Marinete Roque, 51 anos, mora na Rua Josefa de Aguiar, perto da feira livre. "Eu ando de luva porque não quero pegar essa bactéria. Na minha casa eu sempre lavo tudo com água sanitária, dese sempre", disse. "Eu estou orando, pedindo proteção a Jesus, pois só ele que livra", concluiu a dona de casa, que também aguardava na fila da lotérica esperando sacar o benefício do governo.
“A sorte é que nosso hospital não faz atendimentos sérios, só encaminha para a Upa de Cruz de Rebouças ou outros hospitais maiores”, afirmou o prefeito Joamy Oliveira (sem partido). “Criamos barreiras de higienização nas entradas da cidade, além de colocar o carro de som todo dia na rua, para conscientizar o povo”, continuou. Joamy reclama da falta de recursos na cidade. “Nosso município vai fazer 25 anos em junho,somos jovens e não estamos no caminho de grandes cidades, com estrutura, por isso tudo aqui é menos favorecido”, explicou o gestor.
“Para combater o coronavírus, também fazemos ações de limpeza, notificamos os comércios, tipo supermercado, para não ter aglomeração. Na lotérica só pode entrar duas pessoas por vez, e os idosos só podem ir lá até as 9h30 da manhã. Vamos distribuir máscaras de pano, que podem ser lavadas, para as pessoas”, prometeu o prefeito. “Não conseguimos dar cestas básicas porque não temos condições financeiras. Veja você, uma cesta custa R$ 43. Multiplique isso por 2.800, que é o número de alunos da rede municipal. Dá R$ 120.400. Recebemos só R$ 0,36 por aluno, é uma situação difícil. Mesmo assim, distribuímos 400 cestas com o estoque que já tínhamos da merenda”, justificou Joamy.
Fonte: Diário de Pernambuco.
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