Barquinhos dos pescadores às margens do rio / Foto: Mona Lisa Dourado/JC
“Eu vi o beija-flor beijar a flor do ingá, eu vi o piaxaxá, o piaxaxá, o piaxaxá.” Mal descem das baiteiras, os pequenos barquinhos usados pelos pescadores no Litoral Norte, os visitantes são envolvidos pelo ritmo contagiante que mistura coco e ciranda. Supostamente de origem portuguesa, o piaxaxá é uma das surpresas de um roteiro nada convencional por Itapissuma, único lugar do mundo, aliás, a preservar a dança.
O grupo que se dedica a manter a tradição viva é liderado pelo casal de artistas Aldineide Alves Pereira e Weferson Paz, dois dos entusiastas do turismo criativo, que tem sido incentivado em Itapissuma pela Secretaria de Turismo. As casinhas caiçaras recentemente pintadas e decoradas com frases e desenhos em frente ao Porto do Espinheiro servem de cenário para a apresentação que segue entre as vielas animando quem passa.
Perto dali são as ruínas do engenho da antiga fazenda mulata que chamam atenção, assim como a casa-grande que ainda guarda na arquitetura e em parte do mobiliário resquícios da colonização portuguesa.
Em outro porto, o da Camboa, está um dos mais curiosos equipamentos turístico-culturais da cidade. Mantido pelo militar aposentado Joacir Araújo Pessoa, mais conhecido como Sinho, o Sítio do Canto reúne capela e museus com um eclético e curioso acervo. A coleção começou há cerca de 40 anos, com a compra do tacho do antigo Engenho Botafogo, que pertenceu ao barão de Itapissuma, no século 18. “A peça ia ser comprada por um compadre que a levaria para a Paraíba. Achei um absurdo algo tão importante para a história da cidade ir embora para outro Estado”, conta.
De lá para cá, Sinho perdeu as contas de quantas relíquias já adquiriu. Além de preciosidades vindas dos engenhos da região, há desde a faca de prata que pertenceu a Maria Bonita até capacetes de soldados da Segunda Guerra Mundial, artefatos indígenas e a canoa “Jararaca”, utilizada na Guerra do Paraguai.
O Sítio do Canto fica praticamente no final da ruazinha que leva à área de lazer Dalila Vera Cruz, no Centro, onde está o colorido casario que caracteriza Itapissuma. Um amplo mirante permite visualizar o quanto a região é privilegiada em rios e manguezais, que favorecem o turismo náutico.
Outro atrativo é a Matriz de São Gonçalo do Amarante, a simpática igrejinha que todos os anos reúne, em janeiro, milhares de fiéis na quarta maior procissão fluvial do país: a Buscada e Levada de São Gonçalo.
A famosa caldeirada
Tradição gastronômica de Itapissuma, a caldeirada, que abre de domingo a domingo até às 17h, não poderia ficar de fora do roteiro. Oito mestras cozinheiras, como Adriana e Lidiane, servem o prato famoso na sacada com a bela vista para o Canal de Santa Cruz. São herdeiras da saudosas dona Irene, criadora da famosa receita. A mistura de mariscos, camarão, filé de aratu, lagosta, sururu, polvo, filé de siri, arraia, ostra e coco servida com pirão e arroz é praticamente um patrimônio culinário pernambucano. Se não oficial, pelo menos afetivo.
Na área onde estão os boxes de caldeirada, outra boa notícia para o turismo de Itapissuma. Na próxima sexta-feira, será inaugurado o novo Centro do Artesanato e Museu da Cultura Popular, apresentado em primeira mão aos jornalistas que participam da fampress promovida pela Secretaria de Turismo (Setur) do Estado e pela Empetur.
O investimento da prefeitura foi de R$ 35 mil na reforma do espaço, que abriga 50 artesãos. Gente como a “pescadeira” Oldésia de Souza Cruz, que vende bijuterias feitas de conchas, Robson Santos, que comanda o quiosque de cachaças, e Jacira da Silva, que vende dindolés gourmet de sabores tão surpreendentes quanto macaíba com passas. Todos esperam que o novo centro traga melhores negócios e uma fonte de renda mais estável e duradoura.