Segundo pesquisa da UFRPE, presença humana na Coroa do Avião reduziu número de espécies no local
Mon Mar 14 07:45:00 BRT 2016 - Priscilla Costa, da Folha de Pernambuco
Wallace Telino Júnior/Cortesia
Wallace Telino Júnior/Cortesia
MONITORAMENTO - O comportamento das aves migratórias é monitorado por meio de anilhamento – pequenos anéis de metal colocados em uma das patinhas, onde cada uma é codificada -, há 30 anos por pesquisadores da UFRPE. De acordo com Luciano Pires, houve diminuição, por exemplo, na quantidade de animais da família Charadriidae, aves pernaltas de bicos curtos representados pelo quero-quero e batuíras, como a da Scolopacidae, família à qual pertencem os maçaricos e narcejas.
TRAJETO - Cerca de três milhões de aves migratórias vêm para a América do Sul uma vez por ano. A migração começa em agosto. Maçarico rasteirinho (Calidris pusilla), Batuiruçude-axila-preta (Pluvialis squatarola), Vira-pedras (Arenaria interpres) e Maçarico-de-asabranca (Tringa semipalmata) são algumas das espécies da imensa lista. Muitas delas, inclusive, ameaçadas de extinção.
Para chegar à Coroa do Avião, a rota é pelo Atlântico. Oriundas do Alasca e do Canadá, elas se reproduzem nesses países durante o verão e o outono. “Com a chegada do inverno, extremamente rigoroso, elas (as aves) migram para o Hemisfério Sul junto aos seus filhotes em busca de alimento, descanso e clima ameno. E é na Coroa o Avião que, até então, elas tinham como área-chave para sossegarem e se alimentarem de pequenos moluscos trazidos pelo mar”, lamenta Pires.
DIETA - Esses pequenos seres, cujo maior tamanho chega a apenas 15 centímetros, chegam a voar até 30 mil quilômetros a cada ano. Para se ter ideia, uma ave migratória chega a percorrer, ao longo da vida, uma distância equivalente a uma viagem da Terra a Lua: 400 mil km. E chegam a viver até 18 anos, a depender da espécie. São nessas migrações que as aves superam obstáculos naturais, como chuva, rajadas de vento, tempestades e secas, para chegarem até o destino final.
Por aqui ficam até abril do ano seguinte. É nesse período que elas precisam engordar o suficiente para ter energia para voltar para casa e iniciar um novo ciclo reprodutivo. “Essas aves, geralmente, não dormem. Comem dia e noite para alcançarem o dobro do peso. É o que vai dar energia para elas conseguirem voltar tranquilas para o Norte, sem o risco de morrerem no caminho”, diz. E até nisso o turismo interfere: ao se assustarem com presença humana, elas acabam alçando pequenos voos, ou seja, gastam energia e, com isso, perdem gordura.
ZONEAMENTO - Um questionamento feito pelo professor de Zoologia da Unidade Acadêmica de Garanhuns da UFRPE Wallace Telino Júnior é o fato de o zoneamento da Área de Proteção Ambiental (APA) de Santa Cruz compreender os municípios de Itamaracá, Itapissuma e parte de Goiana, mas não incluir a Ilha da Coroa do Avião. “Já há uma proposta de legislação para a proteção da ilhota. Deveria existir regras de acesso. Pelo menos no período que as aves utilizam o espaço para descanso”, observa. Até o fechamento desta edição, a CPRH não respondeu aos questionamentos. Procurada sobre o controle das embarcações, a Capitania dos Portos não retornou.
Fonte: Folha de Pernambuco
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