METRO NORTE

Este canal de noticias foi criado pelo prof Fernando Melo com o objetivo de divulgar informação da Região Metropolitana Norte do Recife, publicada nos diversos meios de comunicação de Pernambuco.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Requalificação dos casarões de Olinda segue em 'banho-maria'

Prazos estimados pela prefeitura estão mais longe de serem cumpridos; algumas obras seguem paradas, sem previsão de retomada, enquanto outras se arrastam

Por: Maira Baracho - Diario de Pernambuco
Publicado em: 07/07/2016 17:00 Atualizado em: 07/07/2016 17:13

Orçamento das obras no Cine Olinda, iniciadas em março de 2013, está sendo atualizado pelo Iphan para viabilizar a retomada. Foto: Everson Verdião/Esp. DP
Orçamento das obras no Cine Olinda, iniciadas em março de 2013, está sendo atualizado pelo Iphan para viabilizar a retomada. Foto: Everson Verdião/Esp. DP
 
Antes da virada do ano, parecia que 2015 seria histórico para a cidade de Olinda. Recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas e projetos em parceria com o Governo do Estado acenderam a esperança que há décadas era enfraquecida pela falta de iniciativa pública, com a promessa de requalificar prédios antigos e devolver à cidade preciosos equipamentos culturais. As obras do Mercado Eufrásio Barbosa, Cine Olinda, Teatro Bonsucesso, Cine Duarte Coelho e Casarão Herman Lundgren, no entanto, já extrapolaram os prazos informados ao Diario pela Prefeitura de Olinda, no final de 2014, e parecem estar ainda mais longe de serem concluídas. E o que parecia ser um desfecho, era só mais um capítulo na história de Olinda, onde casarões que atravessaram séculos carregando a própria identidade da cidade estão entregues ao esquecimento. 

O Cine Olinda, que fica em frente a Praça do Carmo, é o primeiro da lista que deveria ter ficado pronto. As obras começaram em março de 2013 e a expectativa da prefeitura era que fossem concluídas em fevereiro do ano passado. Em outubro, no entanto, foi paralisada por “uma série de problemas de execução”, que não foram detalhados pelo  Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – que, desta vez, respondeu pelo andamento das intervenções. A instituição não definiu um novo prazo para a conclusão e justificou que “está atualizando o orçamento e os serviços restantes, para viabilizar a retomada obra”. 

Também no primeiro semestre do ano passado deveria ter ficado pronto o Teatro Bonsucesso, equipamento inativo há 20 anos, que já ensaiou algumas revitalizações, como em 2008, quando uma obra chegou a começar, mas foi paralisada em seguida. As últimas intervenções –  que garantiriam poltronas, carpete e nova estrutura elétrica – começaram no segundo semestre de 2012 e não foram concluídas no prazo. Segundo o Iphan, os recursos, fruto de emenda parlamentar, já foram disponibilizados ao município e a obra está avançada e a nova previsão é que seja concluída ainda em 2016. 

Adequações orçamentárias  
Também foi prometida para este ano a entrega do Cine Duarte Coelho, que finalmente teria uma obra concluída depois de reformas frustradas em 1981 e 1998. Contemplado no PAC Cidades Históricas, seria ampliado e ganharia camarins, café, bomboniere, novas salas, climatização, cenotécnica e estrutura de som e projeção. Em 2014 a prefeitura esperava que “no começo de 2016” a obra estivesse pronta o que, apesar da expectativa, ainda está longe de acontecer. Segundo o Iphan, no mês de fevereiro o projeto foi devolvido à Prefeitura de Olinda para adequações. Em seguida será aberto o processo licitatório e só a partir daí será possível definir uma nova previsão de conclusão.
 
Depois de reformas frustradas em 1981 e 1998, o Cine Duarte Coelho foi contemplado pelo PAC Cidades Históricas, mas terá que passar por nova licitação. Foto: Everson Verdião/Esp.DP
Depois de reformas frustradas em 1981 e 1998, o Cine Duarte Coelho foi contemplado pelo PAC Cidades Históricas, mas terá que passar por nova licitação. Foto: Everson Verdião/Esp.DP
No mês passado, o prédio do Cine Duarte Coelho, no Varadouro, foi alvo das intervenções da Brigada da Hora, um movimento artístico que se inspira no coletivo Brigada Portinari, que na década de 1980, durante a ditadura, pintou muros de Olinda e Recife em apoio aos políticos que combatiam o regime militar. 

Assim como o Duarte Coelho, o Casarão Herman Lundgreen, na Praça do Carmo, também foi contemplado no PAC Cidades Históricas. O casarão do século 19 foi construído para ser uma residência, mas já abrigou um hospital e uma maternidade. Previstas para começar no início do ano passado, as obras que transformariam o prédio abandonado no Centro da Memória de Olinda ainda não tiveram início e não estarão prontas no segundo semestre desse ano, como projetava a prefeitura. Segundo o Iphan, o projeto executivo está passando por uma terceira análise na diretoria do PAC Cidades Históricas, depois de adequações feitas pela prefeitura. Também de acordo com o instituto, só será possível prever um novo prazo a partir da autorização de execução da obra, que depende destas análises.
 

Abandonado, prédio do Cine Duarte Coelho, no Varadouro, foi alvo de intervenções da Brigada da Hora, movimento artístico que se inspira no coletivo Brigada Portinari. Foto: Julio Jacobina/DP
Abandonado, prédio do Cine Duarte Coelho, no Varadouro, foi alvo de intervenções da Brigada da Hora, movimento artístico que se inspira no coletivo Brigada Portinari. Foto: Julio Jacobina/DP

Com a promessa de ser entregue em março deste ano, o Mercado Eufrásio Barbosa agora só deve atingir os 20% de execução até o final do mês que vem. A nova previsão da Secretaria de Turismo do Governo do Estado, responsável pela obra, é que o prédio esteja pronto em abril de 2017. Segundo a pasta, entraves nas adaptações sugeridas pelo Iphan e uma greve da construção civil atrasaram a obra. O casarão, construído no século 17, já abrigou uma Casa de Alfândega Real e uma indústria de doces, antes de virar mercado. Depois da reforma o local vai receber exposições, shows e comércio. 

Política de conservação faz falta 
Especialista em conservação e restauração, o arquiteto Jorge Tinoco critica a falta de uma política estruturadora de manutenção. Ele explica que a falta de atenção periódica aos prédios da cidade resulta em casarões que sofrem o efeito da passagem do tempo e que demandam outro tipo de intervenção.

“O que precisa acontecer são manutenções sistemáticas, conservação. No caso do Mercado Eufrásio Barbosa, por exemplo, desde 1981, quando foi restaurado, ficou abandonado. A manutenção era varrer o chão, nem a desinfestação de cupins foi feita. E não há nada que resista a falta de manutenção”, analisa o especialista, enfatizando que, hoje em dia, o pensamento dominante é de que é mais fácil construir do que restaurar, o que ele discorda. “Obra de grande porte é construção de barragem, açude e rodovia”, diz.

Previstas para o início do ano passado, as obras que fariam do Casarão Herman Lundgreen o Centro da Memória de Olinda ainda não tiveram início. Foto: Everson Verdião/Esp. DP
Previstas para o início do ano passado, as obras que fariam do Casarão Herman Lundgreen o Centro da Memória de Olinda ainda não tiveram início. Foto: Everson Verdião/Esp. DP

Tinoco também pontua a dificuldade de encontrar profissionais capacitados para as restaurações. “Não tem mão de obra especializada em manutenção, habilitada para isso. Construção não é igual a conservação, é preciso técnica”. Ele relembra promessas antigas de revitalização dos prédios da cidade que nunca foram a diante. “É comum no Brasil, muda o governo, há retenção de verbas e frequentemente as obras são paralisadas, o que causa ainda mais danos às edificações”, explica. 

Morador do Sítio Histórico de Olinda, Tinoco também sente falta de incentivos para quem mora na cidade que é Patrimônio Cultural da Humanidade. Ele conta que já gastou bastante dinheiro para manter o imóvel onde mora com as características originais e reclama da falta de incentivo. “Não recebo nenhum centavo de desconto no IPTU. Manter uma casa em um Sítio Histórico, em qualquer parte do Brasil, é ser penalizado. Você tem o ônus das restrições, de não poder dispor do seu bem da forma como quer, mas nenhum bônus. Meu IPTU ainda aumentou porque o imóvel valorizou”, se queixa. 
Fonte: Diário de Pernambuco

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.