Resíduos deveriam ser tratados em aterro sanitário, mas ficam amontoados.
Famílias construíram barracos no local e moram há anos em meio ao lixão.
O Aterro de Aguazinha, antigo Lixão de Olinda, deveria funcionar como um espaço de transição desde 2011. Era para ser um local onde o lixo ficaria reunido por um tempo determinado, até ser levado para o tratamento em um aterro sanitário de Igarassu, no Grande Recife, como manda a lei. De frente, ele parece organizado, mas é só dar uma volta para ver que não é bem assim. Sem nenhuma proteção, o lixo é jogado no limite entre o terreno do aterro e a rua. O esgoto escorre em meio à sujeira. Não há ninguém controlando a entrada das pessoas. E, mesmo sem autorização, muitos catadores de lixo trabalham lá. Veja vídeo acima.
Parte dos 17 hectares do aterro também funciona como caminho para os moradores da região, que entram e saem sem nenhum problema. No trajeto pra casa, elas garimpam o lixo em busca de algo que possa ser aproveitado. Onde há montes de lixo, os catadores aproveitam. De acordo com a Prefeitura de Olinda, 17 famílias adaptaram suas casas em meio à sujeira.
As casas são improvisadas. Quem depende dos recicláveis para viver acumula o que pode no quintal: no meio do esgoto, embaixo de instalações clandestinas de energia elétrica e perto da criação de animais. Em uma dessas moradias, vive seu Genivaldo com a esposa e os nove filhos. "Para o senhor ver como é a situação. Vim de lá de Tabajara para aqui. Vivo de biscates [trabalho temporário] na rua, quando aparece. Quando não aparece eu ganho umas coisas nas casas dos meus clientes. Pego uma TV, som, umas coisas", explica o idoso.
O dinheiro do lixo é a renda mais certa, quando a família não consegue fazer os bicos. As crianças perderam os benefícios sociais do governo porque preferem ficar no lixão a ir pra escola.
Apesar de as placas na entrada do aterro deixarem claro que é proibida a presença de crianças e adolescentes, a reportagem encontrou muitos deles brincando no meio do lixo, dentro do aterro, perto da comunidade. ATV Globo entrevistou uma adolescente de 14 anos, que recolhe resíduos. Ela diz que estuda, sim, mas também trabalha catando objetos que encontra.
“Pego o dinheiro para comprar as coisas para mim, porque eu preciso. A gente cata plástico grosso, latinha para vender”, conta a jovem. "Dependendo do saco, se o saco for grande, a gente tira 80, 80 e poucos, 100 reais", detalha a adolescente. Ela mora dentro do Aterro de Aguazinha há cinco anos, com os pais e os dez irmãos. “Também teve a que morreu. Ela era novinha, morreu de fumaça, que o pessoal queimava lixo aqui dentro”, continua.
O espaço não é ideal para os catadores, que trabalham com quase nenhuma segurança sobre o monte de lixo, perto das máquinas que reviram os resíduos. A presença deles era pra ser proibida aqui, mas Genivaldo confessa que os funcionários do aterro recebem dinheiro para permitir o trabalho. "Todos eles pagam dez 'conto'. Para entrar no lixão, tem que pagar. Se não pagar, eles [os funcionários] tiram onda", diz o morador.
Os catadores sabem que o trabalho é irregular. Sem ter outra chances de sustento, encaram o risco para sobreviver. Até comida eles encontram. Quando dá, levam para casa. “Esse é para tomar um cafezinho mais tarde”, diz um homem. Na mão, um pedaço de bolo encontrado nos montes de resíduos.
Edilene Cristóvão de Farias mora no lixão, mas diz que prefere trabalhar na rua para não ser expulsa pelos vigias. "Trabalho na rua, sou ajudante de pedreiro, limpo mato... Não é digno não, trabalhar aqui. Mas a gente precisa. Se não tem trabalho, vai fazer o quê?", desabafa, falando também pelos catadores que reviram o lixo no aterro.
Respostas
O secretário de Serviços Públicos de Olinda, Manoel Sátiro, informou que a empresa que recebe o lixo em Igarassu suspendeu o funcionamento por alguns dias por falta de pagamento. "Estamos conversando. Na próxima semana, estaremos resolvendo o pagamento e vamos ter de volta o trabalho sendo realizado", disse, em entrevista ao NETV 1ª Edição desta sexta-feira (9). Veja o vídeo acima.
O secretário de Serviços Públicos de Olinda, Manoel Sátiro, informou que a empresa que recebe o lixo em Igarassu suspendeu o funcionamento por alguns dias por falta de pagamento. "Estamos conversando. Na próxima semana, estaremos resolvendo o pagamento e vamos ter de volta o trabalho sendo realizado", disse, em entrevista ao NETV 1ª Edição desta sexta-feira (9). Veja o vídeo acima.
Manoel Sátiro também esclareceu que a Prefeitura possui seguranças no local, mas que vai solicitar reforço à Polícia Militar e à Guarda Municipal. "Em três anos, por duas vezes fizemos a contenção ao redor do aterro. Mas as pessoas vão de madrugada e quebram muro, fazem todo tipo de coisa, mesmo com segurança", alega. Ele garantiu que as providências estão sendo tomadas para a colocação de tubos de cimento e concreto para cobrir as partes quebradas do muro.
Sobre os catadores de lixo, Sátiro afirma que, quando o lixão se transformou em aterro, foi feito um curso para os trabalhadores. "Hoje temos uma associação. Normalmente, os catadores não frequentam essa área, mas estão frequentando no momento porque estão vendo a grande quantidade de lixo e tentando aproveitar para tirar o sustento", afirmou. As famílias devem ser realocadas. "Estamos com uma ação na justiça para que elas possam ser retiradas e colocadas em outro lugar.", continuou.
Com relação ao vigilante que cobra para que os catadores entrem no espaço, o secretário diz não saber. "Agora de manhã tive uma reunião com a equipe para tentar investigar. Sendo funcionário nosso, estará demitido a partir do momento que a gente comprovar esse tipo de atuação", concluiu.
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